Pesquisadora estuda os efeitos da privação de sono em tarefas cognitivas
Por Marcos Neruber
O estudo desenvolvido pela Pós-graduação em Psicobiologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) buscou analisar os efeitos da privação total ou parcial de sono sobre a aprendizagem.
O trabalho intitulado "Efeitos da privação de sono em tarefas cognitivas, usando o peixe paulistinha" foi desenvolvido pela pesquisadora Jaqueline Pinheiro da Silva. A pesquisa também analisa os efeitos concomitantes com o uso de álcool e melatonina, hormônio produzido pelo cérebro no momento do sono.
De acordo com a pesquisadora, a aprendizagem e a memória são processos importantes para as espécies, pois permitem o reconhecimento coespecífico, rotas e sítios de alimentação. Um dos comportamentos conhecidos por facilitar a aprendizagem é o sono, fenômeno universal presente na maioria dos animais e bastante estudado sob vários aspectos.
"É sabido que a privação de sono altera processos fisiológicos e comportamentais nos animais, no entanto, sua função no organismo não é completamente compreendida. As hipóteses do papel do sono variam da conservação de energia à consolidação de memória. Além disso, o sono teve variadas funções durante a evolução dos animais", destaca Jaqueline Pinheiro.
O peixe paulistinha (Danio rerio), espécie usada na pesquisa, surgiu nos últimos anos como vertebrado modelo em genética e biologia do desenvolvimento e, rapidamente, se tornou popular em estudos do comportamento, assim como aprendizagem e memória por ter características familiares ao ser humano, no que se diz respeito a efeitos de comportamento.
"Além de ser um animal de ritmo circadiano diurno e possuir comportamento de sono bem caracterizado, o peixe paulistinha ainda apresenta vantagens por seu tamanho pequeno e de baixo custo de manutenção, o que estabelece essa espécie como modelo interessante para pesquisas sobre sono", ressalta a pesquisadora.
Resultados
Os resultados analisados mostraram que os peixes que foram parcialmente privados de sono e os totalmente privados de sono e álcool conseguiram realizar as tarefas igualmente, no entanto, os peixes totalmente privados de sono e ainda os totalmente privados de melatonina apresentaram memória e atenção prejudicadas durante os testes.
"Nossos resultados sugerem que apenas uma noite de privação de sono é suficiente para afetar o desempenho do peixe paulistinha em tarefas cognitivas, o que pode também acontecer em humanos. Ademais, a exposição ao álcool na noite anterior ao teste parece suprimir os efeitos negativos da privação de sono, enquanto a melatonina parece não ser eficiente para promover o estado de sono", conclui a pesquisadora.
A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório Zebrafish coordenado pela professora do Centro de Biociências, Ana Carolina Luchiari.