Pesquisadores do CB participam de exposição na Itália com trabalho sobre formigas Tocandiras


29/05/2017
Pesquisadores do CB participam de exposição na Itália com trabalho sobre formigas Tocandiras

Entre março e maio de 2017, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) participou da edição de primavera da exposição "Insetti: vita e curiosità a sei zampe"  (Insetos: vida e curiosidades em seis pernas), no Giardino Botanico Rea di Trana, jardim botânico que faz parte do Museu Regional de Ciências Naturais da cidade de Turim, na Itália.


 


O evento foi voltado para a amostra da diversidade de insetos no mundo, abordando aspectos da sua biologia, classificação e importância para cada ecossistema nos quais eles se integram.


 


Organizada em seções, com painéis explicativos e acervo biológico, a exposição apresentou temas como: Biologia de insetos e suas linhagens, com espécies de regiões italianas e fósseis do Brasil; Beleza e as diferenças morfológicas de insetos presentes nos cinco continentes; e Insetos diretamente úteis para o ser humano, tais como a abelha e o bicho da seda.


 


A exposição foi realizada com a colaboração de institutos biológicos e geológicos da Itália e de outros países. A participação da UFRN se deu por meio do trabalho de divulgação científica de Glaudson Freire de Albuquerque, estudante do curso de Ciências Biológicas, que desenvolveu pesquisa bibliográfica sobre as formigas Tocandiras.


 


A ligação entre Glaudson e a exposição aconteceu pelo convite do geólogo italiano Vittorio Pane, um dos organizadores. Segundo o estudante, eles se conheceram durante um evento de paleontologia no Ceará, onde o professor esteve em busca de amostras de insetos fósseis para a exposição. "Ele  soube do meu trabalho com formigas e do meu interesse em divulgação científica, porque eu já fui curador de algumas exposições e palestras. Ele ficou bem interessado, e me convidou para escrever um texto para a exposição", explica.


 


Além da divulgação da pesquisa desenvolvida por Glaudson Albuquerque, a exposição contou com a colaboração da Coleção Entomológica do Professor Adalberto Antônio Varela Freire do Departamento de Botânica e Zoologia do Centro de Biociências da UFRN, que, diante da solicitação do estudante, doou à exposição italiana sete exemplares de Tocandiras, para compor e enriquecer seu acervo.


 


Laboratório de Biologia Comportamental do Centro de Biociências


 


Os estudos desenvolvidos pelo Laboratório de Biologia Comportamental do Centro de Biociências da UFRN, com as formigas Tocandiras, serviram como fonte para o estudante aprofundar os dados da sua pesquisa.


 


O Laboratório estuda as Tocandiras a partir de duas linhas de pesquisa que se complementam:  comportamento alimentar e interação social, analisando as taxas de troca de informação entre elas e sua distribuição de tarefas.


 


O processo de pesquisa acontece da seguinte forma: os pesquisadores filmam as formigas num determinado espaço dentro do laboratório, analisam as imagens, e buscam colher informações sobre o seu comportamento, através das taxas de interação identificadas. " Eles observam, por exemplo, o  quanto elas interagem um com as outras, tocando as antenas no momento em que elas acham comida, qual formiga está saindo mais do formigueiro e quais delas estão fazendo mais atividades do que as outras. Como todas elas são iguais, elas são identificadas com uma etiqueta numérica que fica colada no tórax", descreve o estudante.


 


As Tocandiras


 


As Tocandiras, objeto de estudo de Glaudson Albuquerque, são formigas típicas da América do Sul. No total, elas estão divididas em oito espécies, mas, a que está presente no Rio Grande do Norte é a Dinoponera Quadriceps.


 


Ela é conhecida como "A formiga gigante", chegando a medir até mais de 3 centímetros e meio de comprimento. Uma das suas principais características é o fato de andarem sozinhas. Tentar compreender esse comportamento, tão incomum em outras espécies de formigas, é um dos desafios dos pesquisadores.


 


Dentro de um formigueiro de formigas Saúvas, por exemplo, podem existir cerca de 5 milhões de indivíduos. Elas nascem com castas e funções sociais já pré-definidas pela sua morfologia, ou seja, uma formiga que é soldado tem mandíbulas grandes para proteger a colônia, o que não acontece com as cortadeiras e as demais. Elas são destinadas a desempenhar a mesma função, do nascimento até a morte.


 


Com as Tocandiras não ocorre isso. Todas elas têm a sua morfologia semelhante, com exceção das diferenças de tamanho e cor entre os machos, que são menores, e as fêmeas, maiores. As Tocandiras não se organizam em castas definidas durante seu ciclo de vida, pois, os indivíduos podem mudar de função. Enquanto que, na colônia de outras formigas, a rainha é escolhida por ser a única capaz de reproduzir, no caso das Tocandiras acontece uma espécie de contrato social: todas têm capacidade de se reproduzir, mas, se abstém, para que uma única fêmea desempenhe essa função.


 


Glaudson explica que o estudo com as Tocandiras pode se tornar mais complexo pela dificuldade em identificar a função que cada indivíduo está exercendo, e por sua organização ser menos especializada. "Elas são tidas como formigas de comportamento mais simples, então estudá-las nos ajuda a compreender como o comportamento de formigas mais complexas evoluiu", analisa.


 


Impacto comparado ao de grandes herbívoros


 


Por representarem 15% da biomassa dos ecossistemas terrestres, as formigas são animais que possuem um impacto profundo nos ecossistemas, comparado ao impacto dos demais animais que se alimentam da biomassa vegetal.  


 


A América do Sul não tem grandes herbívoros pastadores como no continente africano, então, as formigas substituem as grandes manadas de herbívoros, ajudando a manter o controle das pastagens das relvas nas savanas.


 


As formigas, como as saúvas, por exemplo,  não são herbívoras verdadeiras. Elas cortam as folhas que servem de substrato onde cresce o fungo que elas se alimentam.  Ao atacar essas folhas da vegetação,  elas estão promovendo a ciclagem de nutrientes, levando folhas para a terra, e abrindo galerias que ajudam na eração do solo.  


 


As Tocandiras ocorrem em um número bem menor do que as saúvas. O formigueiro contém em média cem indivíduos, mas elas se alimentam também de frutos, e de outros artrópodes causando,  também, o seu impacto no ecossistema.


 


 


Para Glaudson Albuquerque, a importância do estudo das formigas, em especial as Tocandiras, se justifica por questões além das suas funções ambientais. "Ainda existe muito o que se descobrir a respeito do comportamento das Tocandiras. Mais do que simplesmente formigas gigantes, seus hábitos característicos de formigas mais primitivas, à medida que vão sendo revelados, lançam luz sobre a evolução do comportamento social complexo no reino animal, incluindo o nosso", ressalta.