Pesquisa comprova que o uso excessivo de cafeína e álcool pode prejudicar a aprendizagem
Por Marcos Neruber
Pesquisa desenvolvida na Pós-graduação em Psicobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) comprovou que o uso excessivo de cafeína e de álcool pode prejudicar a aprendizagem.
De acordo com a bióloga Luana Carla dos Santos, muitos estudos investigam o consumo de álcool, mas poucos analisam os efeitos da cafeína e do álcool combinados, mesmo essa combinação sendo tão comum entre os jovens, principalmente por meio dos energéticos. "Foi a partir dessa observação que nossa pesquisa teve inicio, a fim de entendermos que doses de álcool e cafeína podem ser usadas sem prejuízos e quais doses podem trazer malefícios para a saúde", destaca a pesquisadora.
Para investigar essas drogas, foi usado o peixe paulistinha, que é bastante comum em estudos com visibilidade para tratamento em humanos, que tem recebido grande atenção dos pesquisadores por ter muita semelhança com os sistemas biológicos humanos.
"O peixe paulistinha, usado em nossos testes, apresenta grandes semelhanças genéticas e comportamentais com os seres humanos e, por serem animais de baixo custo de manutenção e curto ciclo de vida, são modelos importantes para a pesquisa. Assim, o estudo com o peixe pode ser futuramente ampliado e aplicado em mamíferos e pode favorecer o entendimento da ação das drogas em humanos", diz Luana Santos.
Método
No estudo, foram observados os efeitos do álcool e cafeína sobre a aprendizagem do peixe paulistinha, em um teste de reconhecimento de objetos, no qual o animal deve saber identificar um objeto novo após ter tido contato com alguns outros objetos. “Esse protocolo traz informações relevantes, pois avalia a formação de memória de um evento de apresentação curta, muito mais fácil de ser perdida quando o individuo está fazendo uso de drogas”, destaca Luana.
"Após os testes com os animais, observamos que aqueles que ingeriram álcool uma única vez e os animais que estavam em abstinência de álcool ou de cafeína não conseguiram realizar o teste, ou seja, não formaram memória. Quando os peixes receberam a combinação de álcool e cafeína em dose moderada, mostraram formação de memória. Mas a dose alta de cafeína unida ao uso de álcool não foi eficiente para o animal formar memoria", explica a bióloga.
Resultados
Segundo a pesquisadora, os resultados comprovam os efeitos negativos do uso do álcool na aprendizagem e sugerem que o uso contínuo de altas doses de cafeína causa efeitos negativos durante a abstinência. No entanto, quando o indivíduo já está dependente das duas substâncias, o uso moderado da cafeína parece diminuir os efeitos nocivos da ausência do álcool, permitindo ao peixe paulistinha concluir de forma eficaz a tarefa.
"Mostramos que o peixe paulistinha é um ótimo modelo para estudos de aprendizagem e memória, e alertamos para o consumo de álcool indiscriminado e para o uso dessa droga em associação com altas doses de cafeína, como em energéticos associados a bebidas destiladas, que pode trazer prejuízos cognitivos a curto e longo prazo", conclui a pesquisadora.
O estudo intitulado "Irish coffee: Efeitos do álcool e cafeína para o reconhecimento" é parte da dissertação de mestrado da bióloga Luana Carla dos Santos e foi desenvolvido no Luchiari Lab, sob orientação da professora Ana Carolina Luchiari, vice-coordenadora do Programa de Pós-graduação em Psicobiologia da UFRN.