Efeitos do álcool e da nicotina na cognição são tema de pesquisa no CB
Por Marcos Neruber
Os prejuízos causados pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas e o uso indiscriminado de cigarros são considerados mais devastadores e dispendiosos do que aqueles causados por todas as drogas ilícitas juntas. Álcool e cigarro são hoje responsáveis por inúmeros efeitos prejudiciais aos indivíduos e à sociedade.
"Se Eu Quiser Fumar, Eu Fumo. Se Eu Quiser Beber, Eu Bebo. A Influência do Álcool e da Nicotina na Aprendizagem Associativa do Peixe Paulistinha" é o tema do estudo da mestranda Barbara de Araújo Quadros, aluna do Programa de Pós-graduação em Psicobiologia do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Segundo a pesquisa, dentre as áreas de investigação que abordam o consumo de álcool, muitas se preocupam em determinar os mecanismos de ação desta droga no cérebro.
Apesar de anos de estudos, ainda é pouco o conhecimento sobre os mecanismos pelos quais o álcool afeta as funções neurológicas e quais seriam as causas exatas das deficiências cognitivas relacionadas ao seu uso.
Enquanto as ações da nicotina já foram melhor estudadas e o mecanismo de ação estabelecido, não se sabe como as duas drogas usadas juntas podem interferir uma na ação da outra, aumentando a resposta ou até bloqueando uma delas.
Barbara Quadros destaca que o uso associado de álcool e da nicotina ainda necessitam de pesquisas mais aprofundadas no sentido de se estabelecer como as drogas interagem no sistema nervoso e quais as consequências do uso combinado.
"Uma das principais funções superiores do sistema nervoso é a capacidade de aprender e lembrar. Os reflexos condicionados são mudanças comportamentais que podem ser aprendidas a partir de experiências repetidas, e esta aprendizagem pode sofrer alterações de acordo com mudanças neurofisiológicas, por exemplo, após o uso de substâncias psicoativas, como o álcool e nicotina", explica a pesquisadora.
De acordo com os experimentos, devido à complexidade do sistema nervoso dos mamíferos e de suas respostas comportamentais variadas, outros modelos animais mais simples têm sido propostos, entre eles, o peixe Paulistinha (Danio rerio).
"No trabalho foi utilizada esta espécie, com o objetivo de estabelecer um protocolo comportamental robusto para tarefas associativas espaciais, e testar os efeitos de álcool, da nicotina e do álcool mais a nicotina no desempenho cognitivo do peixe", detalha Barbara Quadros.
Resultados
Dos resultados obtidos até o momento, a pesquisadora mostra que o peixe Paulistinha é capaz de realizar tarefas associativas mesmo sob ação de álcool. No entanto, doses variadas de álcool e o consumo agudo ou crônico interferem diretamente na resposta do animal.
Doses altas, mesmo em um único uso (agudo) impedem a aprendizagem, enquanto as doses baixas em uso crônico promovem o desenvolvimento de tolerância, e o animal mantém as respostas cognitivas. “Observamos, também, que o uso agudo ou crônico de álcool concomitante com dose aguda de nicotina não afeta o desempenho cognitivo e o animal aprende a tarefa a ser executada, enquanto a nicotina aguda interferiu negativamente na aprendizagem do animal”, afirma.
"Assim, análises dos grupos restantes e a verificação de outros parâmetros comportamentais, como a resposta de ansiedade/medo favorecerão nossa melhor compreensão dos efeitos das drogas na aprendizagem do peixe Paulistinha e, futuramente, poderemos propor alternativas de tratamento para a dependência dessas drogas em pessoas", disse Barbara Quadros.