Resposta ao estresse por isolamento social depende da idade e do sexo dos animais


29/04/2016
Cientistas analisaram a quantidade de cortisol (hormônio relacionado ao estresse) presente nas fezes dos primatas

Por Marcos Neruber


Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) descobriram que a resposta ao estresse, provocado por isolamento social, muda conforme a idade e o sexo dos animais. Desenvolvido por pesquisadores do Instituto do Cérebro (ICe), do Departamento de Fisiologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, o estudo observou as adaptações hormonais e cognitivas de saguis.
 
Segundo a professora do ICe, Maria Bernardete Cordeiro de Sousa, esse tipo de estudo vem sendo feito em saguis pelo Laboratório de Endocrinologia Comportamental da UFRN. "Como os saguis são mais próximos do homem por serem primatas, do ponto de vista evolutivo, esse estudo apresenta um valor científico importante, pois os resultados podem ser utilizados para interpretar o que acontece com os humanos", explica a pesquisadora.
 
A importância de entender como esse mecanismo acontece está presente na relação entre a resposta ao estresse e o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, tais como ansiedade e depressão. "Todos os animais possuem um sistema de resposta ao estresse. Há cerca de 23 anos, analisamos como isso ocorre nos saguis, importante modelo de experimentação animal, pois  é sabido que muitas doenças mentais se correlacionam com o mau funcionamento desse sistema", afirma.
 
Para observar o nível de estresse causado pelo isolamento, os cientistas analisaram a quantidade de cortisol (hormônio relacionado ao estresse) presente nas fezes dos primatas. Constatou-se que, na infância, os animais reagem mais fortemente ao estresse e que os machos respondem mais rápido e mais intensamente ao isolamento que as fêmeas, especialmente no período logo após a separação do grupo familiar. Por outro lado, quanto mais próximo à vida adulta, as respostas diminuem e são semelhantes entre machos e fêmeas.
 
Com as mudanças da puberdade interferindo no sistema de regulação do estresse, na fase juvenil, as fêmeas apresentaram uma resposta maior ao isolamento que os machos. Porém, conforme Bernardete, "como as fêmeas já apresentam um nível de estresse basal maior, o macho pode aumentar mais, ou seja, o grau de reatividade ao estresse dos machos se expressa de forma mais acentuada nestas situações de desafio do que a resposta de fêmeas".


Outra descoberta é que animais afastados do grupo familiar demonstraram mais interesse pelo teste cognitivo – momento em que os cientistas realizaram experimentos de memória espacial e operacional, por exemplo, realizando atividades para avaliar a memória dos animais.
 
Para a neurocientista, os testes parecem ter se tornado mais atrativos para os saguis isolados porque eles não tinham outras distrações, como acontece com os que integram um núcleo familiar. "Os animais isolados estão privados das relações parentais, das brincadeiras sociais e, dessa forma, a atenção passa a se voltar aos novos estímulos e/ou desafios que lhes são apresentados", comenta a docente.
 
O artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista "Frontiers in Psychiatry" e contou com as participações de Ana Cecília de Menezes Galvão (Psicobiologia), Carla Jéssica Rodrigues Sales (Psicobiologia), Dijanaide Chaves de Castro (Psicobiologia), Nicole Leite Galvão-Coelho (Fisiologia). Feita a análise hormonal, o próximo passo do estudo é observar as expressões comportamentais, de acordo com a professora Maria Bernardete.